domingo, 18 de julho de 2010

Feliz dia novo!!!!

alegria-plenaA cada início de ano, depositamos nossas esperanças no despertar de um novo tempo. Acreditamos que todos os problemas não resolvidos nos doze meses que se passaram serão resolvidos ao longo dos meses que então se iniciam. Acreditamos em encontrar um novo amor. Acreditamos na paz mundial. Acreditamos… Creditamos… Re-editamos… … … Re-editamos nossas listas de prioridades. Re-editamos nossa vida. A depender da religião – católica, judaica, islâmica – as datas se modificam, mas o sentido é sempre o mesmo: repensar esse novo ciclo como um momento de confraternização.

No entanto, à proporção que o tempo passa, vamos nos entregando ao stress do dia a dia. À luta pela sobrevivência. À violência estampada na mídia, acostumando-nos… cortinando-nos… coisificando-nos… … … Assim, vamos aos poucos perdendo a sensibilidade diante das tragédias, das desgraças alheias, das corrupções…  Preferimos acreditar que tudo isso está longe de nós. Não fazemos parte desse mundo!! Não…!! O nosso mundo é bonitinho!! O caos - a desordem - só acontece num país próximo ou distante do nosso… só acontece na casa do vizinho ou na periferia. Não fazemos parte desse mundo!! Não queremos ver que a nossa janela está também de frente pro crime. Está lá o corpo estendido no chão!!! É que para nós, as ilusões sobre as coisas são tão necessárias quanto à própria vida. Pensando bem, talvez nem seja ilusão… e sim uma cegueira diante dessa realidade. Como não temos ilusão, não temos também esperanças. Não temos sentimentos!

Seria tão bom se as esperanças que depositamos na vida não acontecessem somente de ano em ano, mas todos os dias. Afinal, a cada amanhecer recebemos como presente do céu o sol que nasce e faz brilhar a terra, anunciando que um novo tempo está começando. É um novo ciclo. É momento de acreditar que podemos fazer melhor do que ontem. Podemos estabelecer a paz mundial. Podemos abraçar mais… sorrir mais… ajudar mais… enxergar mais o outro que está do lado… ouvi-lo mais. Talvez assim, mudasse um pouco essa realidade. Tornaríamos menos bicho… quem sabe?? Iludidos ou não, vamos pensar dessa forma e acordar a cada dia com a ideia de que é o momento da mudança. Fazer o balanço do dia que se foi e deixar para trás só o que foi ruim, só o que no fez mal ou fez mal ao outro. Cada dia é tempo de renovar… amar… experimentar… … … desejar ao outro paz e prosperidade durante o dia que se reveille. Vamos começar a fazer isso? Um brinde e Feliz Dia Novo para você. drinque taça

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Especulações em torno da palavra homem

homem_bonito 

Mas que coisa é homem,
que há sob o nome:
uma geografia?

um ser metafísico?
uma fábula sem
signo que a desmonte?

Como pode o homem
sentir-se a si mesmo,
quando o mundo some?

Como vai o homem
junto de outro homem,
sem perder o nome?

E não perde o nome
e o sal que ele come
nada lhe acrescenta

nem lhe subtrai
da doação do pai?
Como   se faz um homem?

Apenas deitar,
copular, à espera
de que do abdômen

brote a flor do homem?
Como se fazer
a si mesmo, antes

de fazer o homem?
Fabricar o pai
e o pai e outro pai

e um pai mais remoto
que o primeiro homem?
Quanto vale o homem?

Menos, mais que o peso?
Hoje mais que ontem?
Vale menos, velho?

Vale menos morto?
Menos um que outro,
se o valor do homem

é medida de homem?
Como morre o homem,
como começa a?

Sua morte é fome
que a si mesma come?
Morre a cada passo?

Quando dorme, morre?
Quando morre, morre?
A morte do homem

consemelha a goma
que ele masca, ponche
que ele sorve, sono

que ele brinca, incerto
de estar perto, longe?
Morre, sonha o homem?

Por que morre o homem?
Campeia outra forma
de existir sem vida?

Fareja outra vida
não já repetida,
em doido horizonte?

Indaga outro homem?
Por que morte e homem
andam de mãos dadas

e são tão engraçadas
as horas do homem?
mas que coisa é homem?

Tem medo de morte,
mata-se, sem medo?
Ou medo é que o mata

com punhal de prata,
laço de gravata,
pulo sobre a ponte?

Por que vive o homem?
Quem o força a isso,
prisioneiro insonte?

Como vive o homem,
se é certo que vive?
Que oculta na fronte?

E por que não conta
seu todo segredo
mesmo em tom esconso?

Por que mente o homem?
mente mente mente
desesperadamente?

Por que não se cala,
se a mentira fala,
em tudo que sente?

Por que chora o homem?
Que choro compensa
o mal de ser homem?

Mas que dor é homem?
Homem como pode
descobrir que dói?

Há alma no homem?
E quem pôs na alma
algo que a destrói?

Como sabe o homem
o que é sua alma
e o que é alma anônima?

Para que serve o homem?
para estrumar flores,
para tecer contos?

Para servir o homem?
Para criar Deus?
Sabe Deus do homem?

E sabe o demônio?
Como quer o homem
ser destino, fonte?

Que milagre é o homem?
Que sonho, que sombra?
Mas existe o homem?

Carlos Drummond de Andrade (Poesia Completa e Prosa, Ed. José Aguilar, pág. 302)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Pagando promessas

Escadarias do Paço

Ontem subi as escadarias da Igreja do Paço para ver Jerônimo. A multidão de cores que curtem flores como camaleões se hipernoitizando na mistura de músicas, de ritmos, de pessoas… Mistura de culturas, mistura de mundos. Mistura de sexos, de falares, de olhares… Mistura de tribos… Mistura de religiões. E, do lugar de outrora, Zé do Burro nos mirando ironicamente, com um sorriso de satisfação. 

domingo, 11 de julho de 2010

Amigas

Guardo muitas lembranças da época da graduação - Letras na Universidade Federal da Bahia, de 1998 a 2002. Foi um dos períodos mais felizes e profícuos de miamigosnha vida, apesar da correria, já que eu trabalhava, estudava e cuidava da casa, ou melhor, do apartamento, onde eu morava, juntamente com meus irmãos - Dil, Jorge e João. Não é minha intenção aqui usar a frase clichê “eu era feliz e não sabia”. Não… não gosto dessa frase! Não gosto e não concordo. A gente sabe que é feliz, só não dá muita importância. Temos a tendência cultural do saudosismo, super valorização do passado, como se o ontem e tudo que lá ficou fosse melhor do que o hoje. Eu fui e sou feliz, mas trago as lembranças do passado com sabor de inveja de Peggy Sue. Felizmente, não trago só lembranças. Trago também algumas das boas amizades que conquistei nessa época.

Este fim de semana, por conta da vinda de uma dessas amigas a Salvador, resolvemos fazer um almoço na casa de Aline. Nada mais coerente do que celebrar a amizade com comida, já que a palavra “companheiro” deriva de uma imitação do germânico gahlaiba, em que ga significa “com” e hlaiba significa ”pão”, ou seja, “com pão”, ou ainda, “aqueles que comem juntos o pão”. Mas como eu ia dizendo, o almoço foi na casa de Aline. Explico por quê: Aline fez Letras, é uma excelente professora apaixonada pela morfossintaxe, mas resolveu  estudar gastronomia e, como aprendeu a fazer caruru, quis fazer o dever de casa. Resultado disso: que caruru delicioso!!! Aprovada com louvor. Não vou falar sobre o prato preparado por Aline aqui neste post. Sobre isso, leitores, acredito que a nossa futura chef queira postar alguma coisa em seu blog. Esperem para ler! Agora, sobre as amigas, vamos lá… já que é isso que me traz aqui.

Aline é uma das amigas que conheci no período de graduação. Além de excelente profissional, é, na minha opinião, excelente dona de casa. É casada e tem dois filhos. E se vocês acham que família feliz só exite em comercial de margarina, estão enganados… Na casa dessa amiga existe. Aline se define como a mulher que nasceu para ser mãe. Nesse ponto, somos muito diferentes,  apesar de termos o mesmo signo. Admiro e respeito quem tem esse dom, mas brinco quando me cobram pela maternidade: “filho é bom, mas dura muito”, frase utilizada por Mário Prata.

Acho que Aline é mais parecida com Admari, amiga também da graduação. Dima, como a chamamos, é também excelente profissional, mãe e dona de casa e, neste momento, esbajando felicidade por estar esperando seu segundo filho. Batalhadora pra caramba, Dima é daquelas amigas que a gente sabe que pode contar nos momentos difíceis. Acho que já disse a ela do quanto admiro a sua força e paciência para lidar com as dificuldades do dia a dia.

Kaline, o motivo do nosso almoço, está morando em Fortaleza, mas de vez em quando aparece por aqui para matar as saudades - as nossas e a dela. A nossa baixinha é um pouco exagerada em tudo, menos no tamanho. Kaline fala muito, ri muito, trabalha, estuda e se diverte (pois é, pasmem, ela consegue fazer tudo isso). É impossível ficar sem rir, quando se está perto dela. Até quando fala de seus problemas, seu bom humor não desaparece. Desculpem-me, minto… ela fica mal-humorada quando está dirigindo.

Enfim, como diria Abraham Lincoln “A melhor parte da vida de uma pessoa está nas suas amizades”. Essa é a melhor parte de minha vida.

 

 

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Nasci no Pelô























Nasci no Pelô
Do suor salgado de meus antepassados
Em meio aos tambores
E às pedras disformes de seus becos escuros

Nasci no Pelô
Das entranhas submissas de minhas origens
Em meio aos ritmos étnicos
E à violência arbitrária nos espaços sombrios

Nasci no Pelô
Dos braços impiedosos do meu senhor
Em meio à fogueira festiva
E a bandeirolas dançantes na noite de São João

Nasci no Pelô
Do beijo quente de um casal apaixonado
Em meio às casas coloridas
E à química lasciva do branco e do preto

Quantos já beberam aqui.


Contador de visita

Onde (e quantos) estão bebendo neste momento.